segunda-feira, 24 de junho de 2013

Déjà vu



A porta do quarto está entre-aberta, um som no fundo tocando um velho blues, em uma vitrola, com um disco riscado...Me aproximo lentamente, observo a luz, pendurada, meio que se apaga e ascende ao mesmo tempo. Crio coragem e entro pela porta que faz ruídos como se chamasse por socorro, dou meus primeiros passos dentro daquele local que pode ser o divisor de águas da minha vida, cada um com seu som diferente ao tocar naquele chão marrom, feito de madeira antiga, recém encerado. Nada chama mais minha atenção do que retratos sobre a mesa,ainda meio escuro, procuro nas paredes uma tomada para que ilumine meus pensamentos assim como o local e faça parar a agonia da lâmpada, que também parece pedir socorro.
É apenas em um click para que tudo se resolva, eis que vejo caído, de barriga para baixo e com o rosto virado, um corpo. Pelo jeito já está ali há algumas horas...
Olho ao meu redor, não sei se me sento ou peço ajuda, se continuo andando ou desligo o som, que volta toda hora quando chega na parte riscada. Minha cabeça está a mil, pareço não acreditar que alguém possa se afastar tanto do mundo, que chegue ao ponto de morrer só.
Ainda há pratos sobre a pia, a torneira com goteira, um livro aberto sem acabar de ser lido, coberto de poeira...e eu não paro de observar os retratos.
Por fim a ficha caiu, de tanto ver aquilo que eu não queria enxergar, chego perto ao corpo, ainda com os olhos abertos e me encaro... isso mesmo, sou eu que estou ali. Mais como pode ser tudo assim tão real, eu poder abrir portas, mexer em tomadas e pegar um retrato em minhas mãos ? Só pode ser um sonho... penso eu enquanto se aproxima uma luz forte, branca e forte que chega a me deixar quase cego.
Morri? Sofri um infarto e me salvaram? Estou voltando à vida?
Espera um pouco, de que adianta eu voltar a viver se estarei só? sabe o que farei, jogarei a moeda para o alto , cara ou coroa, tanto faz...desde que ela caia na mão do barqueiro estarei entregue, bem entregue, ele que me leve para onde quiser. Eu já vi isso antes, pena que não quis acreditar.

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